A extinção das férias de verdade— e isso revela muito sobre como vivemos (e trabalhamos) hoje.
Já voltou de férias a sentir-se ainda mais cansado(a)? Ou é daquelas pessoas que têm dificuldade em desligar do trabalho durante o descanso? Se sim, não está sozinho(a). Talvez o problema não esteja na pausa em si, mas na ausência de propósito durante esse tempo.
Os resultados de um estudo1 revelaram que mais de 5 em cada 10 pessoas trabalham durante as férias. Destes, cerca de um terço (34%) fá-lo por gostar do seu trabalho, 26% porque o supervisor assim exige e 29% por receio de perder o emprego.
Mas há mais: o estudo indicou que 33% dos trabalhadores de férias recebem mensagens de texto de colegas que perturbam o seu descanso, 29% recebem e-mails e 7% são incomodados através das redes sociais.
E as consequências de trabalhar durante as férias são sérias. Estar constantemente dispon;ivel parece ser o caminho ideal para o sucesso , mas é na verdade uma receita para o burnout e diminuição da produtividade. Segundo o mesmo estudo, 28% dos entrevistados afirmaram ter tido problemas com os seus parceiros devido ao trabalho nas férias, enquanto 70% reportaram problemas de saúde mental, como burnout e depressão como resultado da sobrecarga de trabalho e 63% dos trabalhadores reportaram sentirem-se ansiosos se não espreitam os seus emails durante as férias.
“Estamos a trocar o descanso genuíno por uma ilusão de eficiência. E, no final, quem paga essa conta é a nossa saúde. As férias não podem ser vistas como meramente administrativas. Elas têm um único propósito: o de promover o descanso e a recuperação do trabalhador. Quem vai de férias tem que se sentir apoiado para que o trabalho que deixa continue, mesmo na sua ausência.”
Podemos, portanto, concluir que trabalhar durante as férias está associado a níveis elevados de stress e desgaste emocional. A tendência crescente de misturar trabalho com lazer pode parecer produtiva — mas os seus efeitos colaterais são silenciosos e profundos.
As férias servem para fazer as coisas de que gostamos e que nos dá alegria. É suposto ser um tempo para deixar de lado o trabalho e recarregar as baterias. Cada pausa pode ser mais do que uma fuga da rotina — pode ser uma jornada de reconexão e clareza. Férias com propósito não exigem grandes viagens, mas exigem intenção. As férias podem ser uma oportunidade para renovação, descoberta e conexão. Tirar férias com propósito é escolher intencionalmente o que fazer com esse tempo precioso, alinhando descanso com valores pessoais.
Recuperação física e mental: Reduzem o stress, promovem bem-estar e satisfação com a vida e melhoram a qualidade do sono. Passar tempo na natureza melhora a saúde do coração e os níveis de felicidade.
Reduz as hormonas do stress: Tirar férias reduz os níveis das hormonas do stress (cortisol) e permite que a imunidade se recupere. Se as hormonas do stress permanecerem cronicamente elevados, você fica mais susceptível a doenças como doenças cardíacas ou cancro.
Aumento da criatividade e produtividade: Dar ao cérebro tempo para “respirar” estimula ideias e soluções originais.
Reconexão pessoal e emocional: Permite tempo de qualidade com entes queridos ou consigo mesma. Um ambiente livre de distrações cotidianas favorece a reconexão com seus valores e desejos, ampliando a clareza para decisões alinhadas ao seu propósito de vida.
Autoconhecimento: Espaço para reflectir sobre metas, valores e futuros caminhos.
Renovação de propósito profissional: Muitas vezes, afastar-se do trabalho reacende a paixão ou revela novos rumos.
No meu livro De-Stress eu falo da necessidade de planificar o que se vai fazer nas férias. Você pode escolher entre experiências que te nutram emocionalmente, intelectualmente ou fisicamente. Algumas ideias:
Aprender de forma leve e prazeirosa: Um curso curto, uma leitura inspiradora
Criar com as mãos: bordar, pintar, cozinhar com calma ou aprender uma habilidade manual.
Voluntariado ou trabalho social: Se envolver com uma causa traz sentido e conexão.
Viagens de reconexão: Lugares com natureza, espiritualidade ou história pessoal.
Retiro criativo ou espiritual: Voltar ao simples: trilhas, silêncio, contato com a natureza.
Conversar sem pressa: Com pessoas que te fazem bem.
Desintoxicação digital: Reduzir tempo nas telas para se reconectar com o presente.
Tempo para projectos adiados: Arte, escrita, jardinagem — qualquer coisa que desperte alegria.
“Nas minhas últimas férias, troquei a agenda cheia por manhãs lentas, caminhadas na natureza e visitas familiares. Descobri que quando paramos, muita coisa se revela. Os ruídos internos, os sentimentos, ideias e caminhos que antes estavam confuses começam a se revelar com clareza surpreendente. Foi mais do que descanso: foi reencontro comigo mesma.”
Férias não são apenas um intervalo. São uma oportunidade de retorno — a nós mesmos. As evidências científicas são claras: não conseguir desligar-se do trabalho durante as férias pode afectar diretamente a saúde, a criatividade e a produtividade. É fundamental que tanto os empregadores quanto os funcionários reconheçam o valor de gozar férias de verdade. Incentivar as férias não é apenas um bónus; é essencial para manter uma força de trabalho saudável, engajada e criativa. Para aproveitar plenamente as vantagens das férias, os trabalhadores devem desligar-se para rejuvenescer rejuvenescer, voltando ao trabalho com uma energia renovada e novas perspectivas.
Que tal transformar o seu próximo descanso numa jornada com significado?
Referências
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